quinta-feira, 15 de maio de 2008

Didier H. - Designer - Da Paiva Couceiro à Braamcamp

Olá Paulo,

Parabéns pelo teu projecto muito construtivo.Tenho 38 anos, 18 anos de deslocação de bicicleta em meio urbano, dos quais 8 anos em Lisboa. Quando me mudei para cá, é lógico que continuei a usar a bicicleta para as minhas deslocações na cidade. Depois de ter vivido e pedalado em Grenoble e Paris, França, só podia ser melhor continuar a pedalar em Lisboa onde as condições meteorológicas são muito mais favoráveis.E as famosas "colinas"? Vamos lá ver:- em Paris, morava num ponto alto da cidade e trabalhava no centro: eram 15 minutos de descida de manhã e 30 minutos de subida à noite. Nunca achei isto fisicamente problemático ou particularmente aborrecido. Para quem não sabe, as bicicletas também têm mudanças que permitem aliviar o nosso motor (as pernas).- da minha casa em Lisboa, tenho um acesso muito fácil a uma grande parte da cidade. No norte há, numa grande extensão, um planalto. As av. de Roma, Av da Republica, Alvalade, Campo Grande, Telheiras, Benfica etc. são totalmente planos. E estando quase à mesma altitude que a Graça ou o Rato / Principe Real, consigo chegar a Alfama ou ao Bairro Alto sem grande esforço, seguindo as linhas de níveis, pois, o melhor caminho nem sempre é o mais curto. No entanto, é “sempre a andar” e não perco tempo em estacionamento. Quinze minutos de porta a porta da minha casa até ao escritório da Alexandre Herculano, A horas de ponta... impossível de carro.Tirei a carta aos 18 anos mas nunca tive carro próprio. Alugo um de vez em quando para um fim de semana fora ou quando não tenho outra alternativa. Assim, seria para mim absurdo ter um carro morando no centro da cidade, ainda por cima com transportes públicos à porta.As principais motivações para usar a bicicleta:- deslocação fácil e rápida de um ponto a outro sem constrangimentos (trânsito, estacionamento, etc.) e sem ficar dependente dos transportes públicos;- sensação de "viver a cidade": ver e ouvir o que um carro ou o metro não permite. Poder parar em qualquer sítio ou decidir mudar de caminho só pelo prazer de descobrir outros cantos da cidade;- é saudável;- é económico;- é ecológicoAlguns conselhos para quem quer dar as primeiras pedaladas na cidade: não hesitem em investir numa bicicleta de qualidade, confortável e bem equipada com selim largo e, eventualmente, suspensões para compensar as trepidações das ruas em mau estado, um porta-bagagens para o computador portátil ou para as compras, um guarda lama para os dias de chuva, travões de qualidade, luzes (com dínamo, para nunca falhar) e uma campainha a sério para maior segurança. O capacete é para mim algo ao qual ainda não me rendi... Nunca usei porque nem sequer havia capacetes quando comecei a andar de bicicleta e porque iria, para mim, tirar uma grande parte dessa sensação de facilidade de uso da bicicleta. Não é preciso nenhum equipamento nem fato especial (espacial :^) para andar. Infelizmente, não chegámos ao ponto dos países com maior prática (Alemanha, Holanda, França etc.) onde o capacete é minoritário por terem integrados a bicicleta como um prolongamento natural da deslocação a pé. Mas, obviamente, o capacete pode fazer a diferença em caso de acidente.Acidente! Do meu ponto de vista, a primeira FONTE de acidente são os peões e não os carros (mas obviamente, sem as consequências de um acidente com carro) por serem menos previsíveis. Em 18 anos de deslocação urbana, tive 2 pequenos acidentes (sem danos corporais) e nunca provocados por carros - apesar de um ter acabado com um contacto com carro. Muitas vezes, os peões atravessam sem olhar porque não se apercebem da proximidade das bicicletas (por serem silenciosas). Sem falar das portas de carros estacionados que abrem de repente. Por isso, é um erro ficar colado ao passeio. É muito mais seguro andar mais pelo meio da faixa para obrigar os carros a abrandar, e ultrapassar, como se fosse um carro, de forma a manter a possibilidade de desvio repentino, sem se ser atropelado por um carro "rasante". Resumindo: é importante ocupar a via!Pessoalmente sou bastante respeitador dos sinais (que permitem fazer pausas regulares) e outros, tais como de sentidos únicos porque se quero ser considerado como um qualquer outro veiculo que partilha a via pública, tenho de seguir as mesmas regras. Só não aplico a regra suicida de ficar sempre na faixa mais à direita numa rotunda (como quer o código de estrada para as bicicletas salvo erro) - sobretudo numa rotunda grande como a do Marquês Pombal onde os carros saiam a abrir. Nunca uso os passeios que são, do meu ponto de vista, espaço exclusivo dos peões.Boas pedaladas.

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