domingo, 8 de junho de 2008

Nuno Xavier - De Sete-Rios ao Campo pequeno

Caro Paulo,
Em primeiro lugar, mais uma vez os meus parabens e agradecimento pelo corajoso e inovador trabalho que tens vindo a desenvolver.
Em relação à utilização da bicicleta como meio de transporte regular, iniciei a utilização desta opção de mobilidade por volta do mês de Agosto do ano passado. Um dos grandes factores que me fez ponderar a utilização da bicicleta foram algumas viagens que fiz a cidades como Amsterdão, Londres, Estocolmo, Budapeste, Zurique, entre outras. Fiquei encantando com a qualidade de vida que testemunhei nestas cidades, tendo usado mesmo a bicicleta como meio de conhecer algumas delas e pensei para comigo - se no estrangeiro em cidades tão desenvolvidas e com pior clima que o nosso a bicicleta é uma opção de transporte porque não usar a minha bicicleta em Lisboa?

Dito e feito, comecei a aventurar-me pelas ruas de Lisboa, sendo o meu percurso casa - emprego de cerca de 2 km por sentido (Sete-rios - Campo Pequeno). Faço o trajecto passando pelas seguintes ruas: Estrada da Luz, Sete-Rios, Columbano Bordalo Pinheiro, Praça de Espanha, Avenida de Berna, Óscar Monteiro Torres.
Neste trajecto para o trabalho circulo de forma mista em estrada, nas vias mais largas e/ou com menos movimento (em que me sinto mais seguro), e nas vias com movimento mais intenso e veloz de automóveis circulo pelo passeio (caso da Avenida de Berna), com uma velocidade mais reduzida e cuidado com os peões.
As únicas inclinações relevantes que encontro são na ida para o trabalho a subida da Óscar Monteiro Torres e no regresso a casa a subida da Calçada da Palma de Baixo, as quais fácilmente ultrapasso com o recurso a uma velocidade baixa na minha bicicleta. O principal entrave a circular sempre pela estrada é o facto de não sentir em certas vias um espaço próprio para circulação de um veículo a baixa velocidade (raramente ultrapasso os 20 km por hora neste trajecto, sendo que os automóveis principalmente na Av de Berna chegam a passar os 70 km h...).

Em relação a alternativas para este trajecto ponderei e experimentei todas, e passo a resumi-las (os tempos apresentados são por trajecto):
- metro: cerca de 35 minutos (incluindo tempo a pé até chegar á estação, troca de linha no Marquês, e da estação de chegada ao trabalho), custo 18 euros mensais;
- a pé: cerca de 35 / 40 minutos, como custo a sola dos sapatos;
- carro: cerca de 8 minutos, custo revisão do carro por 200 euros anuais, gasolina uns 10 euros por semana; selo 30 euros, seguro 160 euros ano, inspecção uns 25 euros anuais; estacionamento 50 euros mensais (e estamos a falar de um Smart);
- bicicleta: 15 minutos, custo 12 euros de 6 em 6 meses para revisão e afinação;

A escolha pareceu-me tão óbvia que só me questionei porque demorei tanto tempo a optar por ela - como bónus deixei de me exercitar no ginásio ao estilo hamster na gaiola (correr ou pedalar sem sair do mesmo sítio), uso a minha energia física para algo de útil, passei a conviver mais com as restantes pessoas que circulam pela rua sem ser de automóvel, pelo que a viagem passou a ser uma experiência agradável por si mesma, e passo a interagir com o meio que me envolve, ao invés de estar sentado a ver a vida e as restantes pessoas do outro lado de um vidro a passar em ritmo rápido (andar de carro acaba por ser como vêr a realidade na TV sentado num sofá - observamo-la mas pouco ou nada interagimos com ela), e chego muito mais bem disposto e activo ao trabalho.

Passei ainda a usar a bicicleta incluisivé ao fim de semana, tendo conhecido nos últimos meses Lisboa como seria impossível conhecer de automóvel, tendo já por várias vezes subido mesmo ao Castelo, já circulei por todos os bairros históricos, etc....

Quanto ao equipamento para circular uso uma bicicleta com pneus de estrada (mais lisos e finos) e 21 velocidades (importantes nas subidas mais intensas), luzes e reflectores nas rodas e cadeados para a prender a qualquer poste ou gradeamento fixo, e uma mochila ás costas. Resumindo a minha experiência, penso que é perfeitamente viável a circulação por bicicleta em Lisboa e mais do que viável é mesmo desejável, por vários aspectos que já todos conhecemos, mas principalmente pelo nosso bolso, saúde, qualidade de vida e pelo nosso planeta - há que consciencializar e promover a utilização da bicicleta, dos transportes colectivos e da conjugação destas duas formas de mobilidade que podem ser perfeitamente compatíveis e complementares (criando-se as condições para tal, e com recurso também a bicicletas dobráveis).

Um grande abraço,
Nuno Xavier

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